sexta-feira, 23 de abril de 2021

Dica de Filme: Viva - A vida é uma festa

SINOPSE 

Apesar da proibição da música por gerações de sua família, o jovem Miguel sonha em se tornar um músico talentoso como seu ídolo, mas ele precisa lidar com sua família que desaprova este sonho. Determinado a seguir seu objetivo, Miguel se encontra na deslumbrante e colorida Terra dos Mortos. A aventura, com inspiração no feriado mexicano do Dia dos Mortos, acaba gerando uma extraordinária reunião familiar, repleta de descobertas e muita afetividade. 

  


Sob o olhar da Psicologia: 

  

Que filme maravilhoso, que leque e que riqueza de interpretações. Impossível não se emocionar com a história retratada. A animação narra de forma poética a relação com a morte, através de música, muitas cores e relacionamento familiar. O filme traz consigo uma reflexão sobre as tradições familiares e os desafios em busca da nossa individualidade. E é absurdamente impossível não se envolver. Toda família possui suas próprias crenças e valores estabelecidos como regras. Miguel, em busca da sua subjetividade, deseja transgredir os limites impostos pela família, pois considera a música como parte de quem ele é. E no “Dia de los Muertos", ele decide enfrentar sua família e seguir o seu sonho.  

  

Seguir o seu sonho ou manter a tradição?  

A tradição da família de Miguel é fazer sapatos. (Acredito que os sapatos possam ser uma referência a realidade, manter os pés no chão, sabe?). Contudo, este padrão tem sua origem a partir de uma grande perda, que resultou em uma série de proibições e medos irracionais.  

Conseguem perceber a semelhança da animação com o dia a dia? Todos nós podemos em algum momento se deparar com questões que diferem do que a nossa família espera de nós. E embora nossos familiares possam não ser tão intransigentes, a cobrança passa a existir mesmo que de maneira inconsciente.  

A decisão de seguir ou não o seu sonho é um trabalho interno, e exige uma busca e uma ressignificação de histórias e conflitos. Racionalmente, podemos considerar que estamos bem resolvidos com relação a algo, mas o registro em nosso inconsciente é de que a tradição deve ser mantida, com isso alguns processos de autossabotagem podem ocorrer e nos impedir de avançar.  

 
O que é Constelação Familiar? 

É um método terapêutico criado pelo filósofo alemão Berth Hellinger. Baseada em leis que, segundo o autor, desenvolvem identificações e implicações trágicas entre os membros de uma família, e as definem como as ordens do amor. Pertencimento, Equilíbrio de Troca e Ordem ou Hierarquia, podem ser aplicadas para harmonizar situações de separação, relacionamentos desgastados, dificuldades de crescimento individual, entre outros. O terapeuta escolhe o número de pessoas que considera necessário para representar os membros de determinada família de quem irá constelar um problema. A ideia é que os escolhidos e participantes dessa dinâmica representem os familiares e abordem de uma forma compartilhada os sentimentos e emoções como um todo. O processo também pode ser realizado individualmente e as representações feitas através de bonecos. 

 
Pertencimento 

Uma das grandes verdades em nossa vida é que todos nós temos o desejo de pertencer. O pertencimento é a base da lealdade familiar. Esta necessidade em pertencer faz com que, mesmo de maneira inconsciente, eu seja leal aos padrões familiares, mesmo que isso muitas vezes custe a minha felicidade. Muito sofrimento e doenças psicológicas podem ser gerados a partir destas lealdades invisíveis. 

Miguel, sofre por sentir-se sozinho e sem o apoio de sua família. O menino, inclusive, arca com as consequências ao tentar sair dos padrões e seguir a sua vontade. Embora esteja em busca da sua individualidade, o filme retrata muito bem como ainda é necessário e importante obter este apoio familiar. Romper com a família na tentativa de conquistar sua autonomia, nunca é a solução adequada e pode resultar em uma série de frustrações futuras.  

  

Outra observação interessante a respeito do filme, é sobre a bisavó de Miguel. A senhora apresenta um quadro nítido de Alzheimer, impossibilitando a comunicação e reconhecimento de familiares, porém, a mesma acaba sendo "resgatada" ao acessar memórias e lembranças, até então, bloqueadas por sua família.  

O inconsciente familiar executa grande influência e membros dessa família que foram excluídos por algum motivo(traumas, conflitos), podem ficar como fantasmas, tentando ser vistos ou apenas continuar existindo. 

Muitas vezes basta um ato simbólico ou uma conversa que traga revelações, junto a outras elaborações em processo terapêutico, para conseguirmos alívio. 

Está tudo bem em não seguirmos padrões familiares, o que não podemos é perder nossa individualidade e nossas conexões. Não há encontro, quando há restrições. Por isso é tão importante não deixarmos os nossos sonhos de lado. As vezes, a solução para avançarmos não está no futuro, mas em um olhar mais apurado sobre o nosso passado.  

A introdução da cultura mexicana para retratar a morte, a traz de maneira leve e simplista. Nunca estamos preparados para lidar com a perda de um ente querido, mas talvez seja preciso olhar para este fato com uma nova significação, assim como para o Miguel o dia dos Mortos não tinha simbolismo algum e ganhou uma nova perspectiva. Perdão, justiça e verdade regem muito bem o final desta história. As sensações despertadas pela trama permitem uma experiência única. A mesma magia que possibilita ao Miguel uma nova perspectiva, também encanta o espectador, nos trazendo uma série de reflexões. Cativante, a animação emociona o público de qualquer idade, tirando gargalhadas e lágrimas do início ao fim.  



PALAVRAS-CHAVE 

Relações afetivas e familiares, perdas, luto, morte, memória afetiva, constelação familiar, autoconhecimento, subjetividade, ressignificação, crenças e tradições. 

terça-feira, 20 de abril de 2021

Ansiedade e Pânico - Quando os sintomas agravam

Em tempos de pandemia, considero de extrema importância falarmos sobre Ansiedade. Muito antes do momento atual, os consultórios já estavam lotados de Pacientes que não sabiam ao certo o que tinham, mas não conseguiam lidar com suas emoções ou sintomas físicos sem motivos aparentes. 

 

Assim como a depressão, a ansiedade é mais uma das doenças psicológicas que encontra-se em evidência. Está associada a um estilo de vida cada vez mais acelerado. E é muito mais comum do que imaginamos, atingindo aproximadamente 30% da população, segundo a OMS.  

 

A verdade é que a sociedade atual demanda um imediatismo desenfreado e coloca o indivíduo multitarefa como ideal a ser seguido. Vivemos muito mais no futuro, sobrando pouco tempo para de fato, viver e desfrutar do presente. 

 

Ansiedade e Pânico – Quando a ansiedade ganha força

 

Como já dito anteriormente, certo nível de ansiedade é considerado saudável e contribui para que aumentemos nossos esforços e desempenho. Trata-se de uma reação originalmente instintiva, cuja função é nos alertar e preparar para responder a algo novo e desconhecido. 

Contudo, o problema maior ocorre quando a ansiedade se intensifica a ponto de não ser administrável, gerando sofrimento e prejuízos em nosso bem estar. Em alguns casos, essa ansiedade se torna acentuada causando sintomas físicos desagradáveis como descritos no post anterior: falta de ar, palpitações, enjoos e tonturas, etc.

A síndrome do pânico é justamente a potencialização de todos estes sintomas “ansiosos”. Nosso corpo reage como se estivéssemos vivenciando intenso perigo, emite um alerta, e a crise surge geralmente com início súbito e acompanhados de uma sensação de catástrofe iminente. A frequência e duração das crises varia de pessoa para pessoa. 

Enquanto nas Fobias a pessoa teme uma situação ou objeto fora dela (altura, barata, etc), na Síndrome do Pânico o perigo vem de dentro.  Há uma sensação de descontrole do corpo e uma interpretação catastrófica das reações corporais como sendo perigosas. 

Há quatro tipos principais de pensamentos catastróficos que costumam aparecer nas crises de pânico:  


  • Medo de perder o controle 
  • Medo de desmaiar 
  • Medo de morrer 
  • Medo de estar enlouquecendo 

  

De acordo com pesquisas, a síndrome do pânico e suas crises de ansiedade são mais comuns em mulheres do que em homens. Além disso, é mais frequente que aconteça na idade adulta. A pessoa em crise sofre com períodos extremos de ansiedade, acompanhados de pelo menos quatro dos seguintes sintomas: 


  • Palpitação ou Taquicardia 
  • Sudorese 
  • Tremores 
  • Sensação de falta de ar 
  • Sensação de asfixia 
  • Dor ou desconforto torácico 
  • Náusea ou desconforto abdominal 
  • Sensação de desmaio/tontura/instabilidade 
  • Calafrios ou ondas de calor 
  • Dormências ou formigamento 
  • Desrealização (sentimento de irrealidade) e/ou despersonalização (sentir-se fora de si) 
  • Perda do foco visual; 
  • Boca seca; 
  • Pensamentos catastróficos; 

 

A diferença entre ansiedade e síndrome do pânico está na intensidade dos sintomas e na imprevisibilidade de sua ocorrência. Enquanto a ansiedade tem causas motivadas por algo, como um desafio a ser enfrentado ou uma situação delicada que está para ocorrer, a crise de pânico não tem hora nem motivo para começar 

 
Síndrome de pânico: causas 


Ainda não se sabe a causa exata, mas há fatores que podem influenciar: Genética, o tipo de temperamento da pessoa, o estresse do dia a dia e as mudanças cerebrais que acontecem, como uma reação, a episódios específicos:


  • Episódios com estresse extremo; 
  • Transições de vida ou de carreira de forma abrupta; 
  • Morte ou doença de um ente querido; 
  • Estresse pós-traumático; 
  • Histórico de violência e abuso na infância; 
  • Preocupações excessivas; 
  • Necessidade de estar no controle da situação; 
  • Expectativas altas; 
  • Dificuldade em aceitar mudanças de opinião; 
  • Repressão de sentimentos negativos; 
  • Negação de que haja algo de errado; 
  • Ocupação constante; 
  • Grandes responsabilidades e alto grau de exigência pessoal; 
  • Perfeccionismo e má aceitação de erros. 


Com a repetição das crises surge uma expectativa ansiosa de ter novas crises de pânico, um fenômeno denominado ansiedade antecipatória. É comum a pessoa começar um processo de evitação, restringindo sua vida para tentar evitar que “aquilo volte”. Ela começa evitando certos lugares ou fazer determinadas tarefas, numa tentativa de evitar uma crise, o que vai limitando sua vida pessoal e profissional. 

Muitas pessoas com pânico também apresentam sintomas de Agorafobia. A agorafobia é um estado de ansiedade relacionado a estar em locais ou situações onde escapar ou obter ajuda possa ser considerado difícil, caso a pessoa tenha um ataque de pânico. É comum ocorrer em ambientes cheios de gente, em lugares pouco familiares e quando a pessoa se afasta de casa. Pode incluir situações como estar sozinho, estar preso no trânsito, dentro do metrô, num shopping, etc.  

As pessoas que desenvolvem agorafobia geralmente se sentem mais seguras com a presença de alguém de sua confiança e acabam elegendo alguém como companhia preferencial. Este acompanhante funciona como um “regulador externo” da ansiedade, ajudando a pessoa a se sentir menos vulnerável a uma crise.


Como a psicoterapia pode ajudar? 


Em um processo de psicoterapia, é possível auxiliar o indivíduo a encontrar um sentido para aquilo que foge do seu controle. Identificar os gatilhos de suas crises, além de refletir sobre estratégias de enfrentamento. Os sintomas das crises podem ser parecidos, mas a motivação de cada pessoa é diferente, e somente revisitando a própria história o paciente poderá compreender como chegou até ali, e quais são as saídas possíveis. 

Em casos cujas crises são muito frequentes e intensas, é importante a intervenção medicamentosa, aliada à psicoterapia. Atividade física e a busca por momentos de pausa (como destinar um tempo a não fazer nada e simplesmente estar consigo mesmo, pensar sobre suas escolhas, inserir práticas de meditação/oração em sua rotina) costumam ser bons aliados, além das técnicas de relaxamento, acupuntura, dentre outras atividades que ajudam a aliviar a tensão. 

Infelizmente a maioria das pessoas só buscam ajuda quando as crises já se tornaram incapacitantes. 

Contudo, prevenir é sempre a melhor opção. A busca por ajuda deve ter como critério um incômodo que parece difícil de manejar por conta própria, independentemente da sua intensidade. 


Se você tem se sentido incomodado com alguns sinais de ansiedade e/ou pânico, não espere o quadro agravar, busque ajuda profissional.



Psicóloga e Coach, Palestrante e Especialista em Saúde Mental e Qualidade de Vida.
psicologatatianegimenez@gmail.com
(11) 98797-6916